terça-feira, 25 de junho de 2013

Cartografia da População de Belém (1960)





Luiz Henrique Almeida Gusmão
Geógrafo e Lic. em Geografia (UFPA)
Mapas em Geral, Treinamentos,
Banco de dados, SHPs e Kmls
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Segundo Antônio Rocha Penteado (1968), tomando como base as características funcionais, a cidade de Belém nos anos de 1960 era dividida em quatro áreas:

a) Zona Sul: Era formada pelos bairros da Batista Campos , Jurunas, Cremação, Condor e Guamá

b) Zona Leste: Era formada pelos bairros de Nazaré, São Brás, Canudos e Terra Firme.

c) Zona Norte: Era formada pelos bairros da Matinha (Atual Fátima), Umarizal, Telégrafo sem Fio (Atual Telégrafo), Sacramenta, Pedreira, Marco, Sousa e Marambaia. 

d) Zona Oeste: Campina, Reduto e Cidade Velha.


Mapa 01. Divisão dos bairros de Belém em zonas (1960)
Fonte: GUSMÃO (2016)
É expressamente proibido o uso, publicação, cópia, comercialização ou o compartilhamento desse mapa ou figura sem autorização prévia do autor, configurando-se como plágio.

Belém em 1960 era constituída por 20 bairros situado em 4 zonas diferentes, na qual a Zona Norte tinha a maior extensão territorial, era a mais populosa e com o maior crescimento urbano da época, predominando uma população com baixo poder aquisitivo e estando em áreas de várzea (áreas inundáveis periodicamente). 

Os bairros da Zona Oeste eram predominantemente comerciais, com imensas e variadas lojas, principalmente em Campina. O bairro do Reduto era industrial, contendo inúmeras fábricas alimentícias, têxteis e de limpeza. O bairro da Cidade Velha possuía e ainda tem um rico patrimônio histórico e arquitetônico do século XVI, XVII e XVIII nas suas ruas estreitas.

Os bairros de Batista Campos, São Brás, Canudos, Marco, Nazaré e área Norte da Cremação possuíam terrenos mais elevados, com quarteirões amplos e traçados com um certo planejamento. Neles residia a classe média e alta belenense. Suas casas eram revestidas de azulejo, construídas no alinhamento da rua, geralmente asfaltadas e, com exceção de Canudos, todas eram arborizadas. Na porção sul do bairro da Cremação moravam geralmente os operários e comerciantes. 

No bairro de Nazaré, havia o contraste entre  novo e o velho, se destacando a Basílica de Nazaré, os grandes palacetes, alguns transformados em repartições públicas, outros ainda ocupados pelas famílias tradicionais de Belém, e as modernas construções, como o edifício Manoel Pinto da Silva, o mais alto de Belém na época. 

Além de ser um centro religioso, o bairro funcionava como centro educacional, comercial e recreativo, pois concentrava a Faculdade de Administração da Universidade do Pará, os núcleos de ciências exatas e humanas, colégios de ensino médio, fundamental e língua estrangeira, galerias, livrarias, papelarias, institutos de beleza, cinemas, restaurantes, bares, lanchonetes, farmácias, entre outros, sendo responsável pela maior agitação da vida noturna de Belém nos anos de 1960. (PENTEADO, 1968)

Nos outros bairros residia a população pobre de Belém, alguns apresentando graves problemas de saneamento básico, como a falta de água potável. O Guamá, Telégrafo sem fio, Matinha, Sacramenta, Pedreira Jurunas e Condor eram bairros de várzea e seus moradores viam-se sujeitos às enchentes anuais do rio Guamá ou da Baía de Guajará.

As casas, a maioria barracas de madeira e pau-a-pique, cobertas de folhas de palmeira, eram construídas em um nível mais elevado ligadas através de pontes, conhecida como Estivas. Nesses bairros as principais vias comerciais e industriais eram a Estrada Nova (Atual Bernado Sayão), a Tv. Pe. Eutíquio, a Av. Sen. Lemos e a Av. Pedro Miranda.

Os bairros do Umarizal, Marco, Telégrafo sem Fio e Pedreira concentravam quase 40% da população da cidade, enquanto o restante estava distribuída pelos 16 bairros.


Tabela 1. População dos bairros de Belém em 1960
Fonte: PENTEADO, 1968. p. 208.


Mapa 02. População dos bairros de Belém (PA) em 1960
Fonte: GUSMÃO (2016)
É expressamente proibido o uso, publicação, cópia, comercialização ou o compartilhamento desse mapa ou figura sem autorização prévia do autor, configurando-se como plágio.


O mapa 02 evidencia a distribuição espacial da população de Belém nos seus bairros, no qual o Umarizal e Marco eram os mais populosos do período, com mais de 26.000 habitantes. Em seguida, entre 14.900 a 16.778 habitantes, estavam Telégrafo sem Fio, Pedreira, São Brás e Jurunas. Em 1960, o setor Norte concentrava a maioria da população da cidade, assim como registrava a maior taxa de crescimento populacional no período.

A área central de Belém naquele período compreendia os bairros da Campina, Cidade Velha e Reduto, que possuíam melhor infraestrutura, no que se refere aos serviços bancários, educacionais, de saúde, de recreação, financeiro, entre outros, no qual a população de classe média e alta habitava. 

A maior parte da população morava em bairros periféricos, denotando um aglomerado de habitantes pobres no Umarizal, Telégrafo sem fio, Pedreira, Guamá, Condor, Matinha, Marco, Sacramenta, Marambaia, Souza e Jurunas, enquanto em São Brás havia uma classe média ascendente decorrente da exaustão de terrenos em Nazaré. O bairro da Terra Firme, apesar de evidência de ocupação, não há dados registrados na obra (PENTEADO, 1968).


O mapa abaixo (Mapa 03) expressa a forte densidade demográfica nos bairros do Setor Leste e Oeste, destacando-se Campina, Umarizal, São Brás, Reduto, Batista Campos, Cidade Velha, Canudos e Matinha, todos com mais de 100 habitantes por hectare, ou seja, cerca de 40% dos bairros já possuíam essa característica. 


Mapa 03. Densidade demográfica dos bairros em 1960 de Belém (PA)
Fonte: GUSMÃO (2016)
É expressamente proibido o uso, publicação, cópia, comercialização ou o compartilhamento desse mapa ou figura sem autorização prévia do autor, configurando-se como plágio.


Os menos povoados eram Sacramenta, Souza, Marambaia e Condor, entre 6 a 25 moradores por hectare, em decorrência da incorporação recente dos mesmos na malha urbana da cidade, sendo distantes do centro com uma população extremamente pobre.

Em 1960, já era evidente um adensamento populacional nos bairros com melhor infraestrutura e pouco susceptíveis aos constantes alagamentos, principalmente pelo baixo custo na manutenção das casas, assim como pela proximidade com o centro comercial da cidade. Em contrapartida, as pessoas que viviam na Zona Norte e na Zona Sul, percorriam grandes distâncias para exercer suas atividades e estavam mais susceptíveis às doenças pela precariedade do saneamento básico.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os mapas destacaram algumas características demográficas de Belém em 1960, como a primeira tentativa de regionalização da cidades; a forte densidade demográfica nos bairros da Zona Oeste e Leste, assim como a alta concentração populacional nos bairros da Zona Norte. É evidente que Belém passava por um período acelerado de crescimento populacional, em decorrência do avanço do sistema capitalista, através da expansão do comércio e da prestação de serviços no centro, o que motivou a ocupação de bairros que eram ocupados por várzeas no Setor Norte e Sul. A cidade em 1960 tinha uma população de 225.218 habitantes, enquanto em 2010 era de 1.392.031, o que destaca o forte e acelerado processo de ocupação do seu território nas últimas décadas.




REFERÊNCIAS

PENTEADO, A. R. Belém do Pará: Estudo de Geografia Urbana. Volume 1. Coleção Amazônica. Série José Veríssimo. Universidade Federal do Pará - UFPA, 1968.